As manhãs de sábado, como vem sendo hábito, têm sido dedicadas aos trabalhos na horta. Gosto de mexer com as mãos na terra. Dirão alguns que esta ligação direta à mãe natureza faz com que haja uma transferência de energia entre o meu corpo e o planeta, permitindo que se restabeleça o equilíbrio energético entre ambos. A verdade é que termino o trabalho com o corpo suado, cansado e respiração ofegante, mas satisfeito pelo que fiz e com um sorriso no espírito e a olhar para o mundo de outra forma.
Depois da limpeza às daninhas, de fazer novos plantios e sementeiras, as tarefas desta semana incluíam um novo desafio, capar e tutorar os tomateiros. Que é como quem diz tirar às plantas os apêndices a mais e arranjar uma forma de as segurar em pé.
Quanto à capação, o processo é simples e, se houver erro ou simples desconfiança, nada mais simples! Ctrl+Alt+Del e começa-se de novo. O pior que pode acontecer é sobrarem só os talos.
Já em relação à tutoria, aí é necessário dominarem-se algumas técnicas de MacGyver ou então deixar a coisa como nos outros anos e os tomates acabam todos por apodrecer caídos na terra. Vantagem disso é que no ano seguinte aparecem tomateiros onde menos se espera.
Aproximei-me dos tomateiros. Observei-os com curiosidade e desconfiança. Nesse mesmo instante, um clarão brilhante surgiu sobre as plantas e comecei a ouvir vozes. Pensei imediatamente que me tinha esquecido de tomar o comprimido para a tensão arterial. E as vozes, naquele tom celestial característico deste tipo de vozes, diziam: “ainda não há candidatos…” Atina contigo! Decidi logo ali que, para todo o sempre até ao fim dos meus dias, em vez de um único comprimido em jejum, ia passar a tomar dois. “Já é obsessão!” Pensei eu. E mandei calar as vozes.
Não obedeceram. Esta gente que aparece no meio de clarões em cima de plantas tem esse defeito… e enquanto nós não as ouvirmos elas vêm todos os meses, no mesmo dia, como se fossem a conta da eletricidade…
E o clarão intensificou-se tornando-se mais luminoso – ou a tensão já vai a 20 ou a conta deste mês ainda vai ser maior do que quando é por estimativa. “Não tenhas medo!” E eu a olhar para os tomateiros a ver como aquilo se aguentaria em pé. “Porra! Tu és engenheiro e não consegues resolver essa merda!?”
Não me enganei com as aspas. Foi mesmo a voz celestial vinda do clarão que estava em cima dos tomateiros que o disse. Ou nunca ouviram falar da ira divina?!
E foi aí que recuei no tempo. Àquele tempo em que vivia na Base e o meu pai tinha uma pequena horta a que lhe chamava machamba. Resquícios dos tempos em que combateu no Ultramar. O meu pai percebia, e percebe, tanto de hortas como eu, apesar de se julgar um entendido… se vissem a que ele tem agora, é de rir. Uma horta suspensa. Talvez porque toda a sua vida tenha andado de helicóptero. Mas adiante. A machamba da Base também tinha tomateiros e, apesar de tudo, o meu pai conseguia que não ficassem caídos no chão.
Hoje não é dia do Pai. Mas foi a inspiração dele que me fez resolver mais um problema.
Nota: O PS já tem candidato à câmara da Praia. Agora resta-nos esperar pelo projeto que o Tibério Dinis tem para o nosso concelho. O que da rua de Jesus se pode ambicionar é que o seu projeto defina um rumo de sucesso e de desenvolvimento para a Praia, desejando ao agora candidato votos de um bom trabalho. Voltarei ao tema muito em breve…