Há dois anos atrás, neste modesto terreiro defronte da minha casa, pela segunda vez em cinco anos, procedeu-se ao sacrifício da carne. Apesar do dramatismo do momento, agora atenuado por os bezerros já não serem sacrificados à nossa frente, chamamos a este ritual “folia do bezerro” (a expressão é variável, mas o sentido é sempre o mesmo – festa).
Pode parecer estranho e até mesmo exótico aos olhos de quem vê de fora e desconhece o sentido desta festa, uma daquelas em que, mais do que assistir, é preciso vivenciar.
Pode parecer estranho e até mesmo “primitivo” ver animais enfeitados com fitas coloridas a percorrerem as principais ruas da vila, ao som da filarmónica e do bombar dos foguetes, arrastando atrás de si uma pequena multidão e trazendo às janelas e à berma da estrada os mais curiosos que apreciam, respeitam e reverenciam os animais.
Mas é assim que nós somos. É assim que vivenciamos a nossa fé no Espírito Santo. Para nós, sacrificar a carne para depois distribuir a quem mais necessita e a quem ainda não foi tocado pelo pecado que só a vida adulta concebe é momento de festejo e celebração.
Dois anos depois, quis o calendário que hoje fosse Sexta-feira Santa, o dia do Sacrifício Supremo. Coincidências… Acasos… ou Alguém a querer dizer-me alguma coisa…
Por muitos anos que viva – e espero serem muitos – este será um dos momentos inesquecíveis da minha história…