Hoje está Sol, a rua de Jesus está vazia (o que não é uma novidade), a cidade não cheira a dejetos de porco e a ilha Terceira vai regressar à sua função de centro do mundo universal e da via Láctea com a instalação, nesta terra abençoada por Deus e com a pior aerogare da Europa, do Air Centre. Pelo menos é o que diz, repete e insiste a Deputada Lara Martinho em todos os artigos de opinião, comunicados de imprensa, “postagens” no facebook e provavelmente terá a casa forrada a “post its” amarelo-fluorescente com a frase “Air Centre” para não se esquecer de a dizer sempre que tenha oportunidade. Por vezes até se fica com a ideia de que já aqui aterra o space shuttle ou de que a NASA, à semelhança da SATA, mudou para cá as suas instalações ou passaram a ser cá fabricados aviões. Curiosa e infelizmente é que, por parte de quem de direito e de quem toma as decisões e tem a capacidade para as implementar, ninguém dá por garantida a instalação na Terceira, nem sequer nos Açores, deste falado e previamente aclamado Air Centre. Já é mais do que tempo de dizer a verdade e nada mais do que a verdade aos terceirenses e, neste caso concreto, aos praienses em particular.
Vivemos num mundo de ilusões e do entretenimento puro em jeito de programa de domingo à tarde dos canais de televisão. A política tornou-se num desenrolar de estórias ficcionadas, uma atrás da outra, com final feliz anunciado, mas que se vai arrastando temporada atrás de temporada sem que se vislumbre esse encerramento épico. Vai-se alimentando o povo com notícias aparentemente avulsas, mas milimetricamente planeadas, sem que alguém as coloque em causa, sem que se levante a dúvida ou as contradiga. Uns ficam à espera dos outros e ninguém quer ser o desmancha-prazeres, o que vem estragar uma festa em que ninguém vai ficar até ao fim para ver o fogo-de-artificio, se houver.
Enquanto isso, as novelas do passado recente que serviam para arremessar ao Governo da República anterior ficam esquecidas e o Porto da Praia continua como está e a implementação do PREIT, no que a assuntos sérios diz respeito, fica por fazer deixando de ser importante e obrigação do Governo Central transferir para os Açores milhões e muitos milhões de euros ou descontaminar os aquíferos que saciam a sede aos habitantes do Leste da Terceira.
Tudo é relativo. A importância e dimensão dos problemas também é facilmente relativizada. Tudo depende dos interesses partidários do momento, independentemente do verdadeiro interesse das populações. Veja-se o que se passa a nível nacional com o fraturante Bloco de Esquerda ou com o ortodoxo Partido Comunista Português para quem o 25 de abril ou o 1º de maio passaram a ser meros feriados nacionais para se passear nas avenidas de Lisboa sem que se reivindiquem as pertinentes bandeiras de sempre e não se ouçam palavras de ordem contra o governo como se vivêssemos num país perfeito. Os tempos mudaram. As ideologias esbateram-se e as siglas partidárias deixaram de coincidir com o pensamento a que tradicionalmente lhes atribuímos. Expressões como esquerda e direita tornaram-se chavões e armas de arremesso no ringue da luta partidária onde o importante é sair-se vencedor, ou melhor, o importante é derrotar.
Senhora Deputada Lara Martinho, mais do que palavras, precisamos é de ações reais que mudem, para melhor, a vida das pessoas. Espero verdadeiramente que os seus escritos se materializem e o Air Centre se torne rapidamente uma realidade. Enquanto isso, com pena minha, são só palavras.
Publicado na edição de hoje do Diário Insular.