Uma nova geração prepara-se para assumir as rédeas do poder na Praia da Vitória. 28, 30 e 32 anos são, respetivamente, as idades de Cláudia Martins (PSD), Tibério Dinis (PS) e Andreia Vasconcelos (CDS-PP), sendo que nenhum dos candidatos conheceu a Vila da Praia com os sonhos e ambições que a tornaram cidade.
Esta é, por isso, uma oportunidade única. Uma oportunidade para que esta geração de praienses projete a cidade e o seu concelho com os olhos, os saberes, as experiências e expectativas de quem praticamente está no início da sua vida ativa, a constituir ou a pensar constituir família e vê o mundo de forma diferenciada dos seus pais e avós que viveram num concelho que se desenvolvia à sombra do sonho americano que era a Base e garantia o nosso sustento e sobrevivência.
A Praia já não é assim. O concelho enfrenta desafios que ninguém ousaria prever há duas décadas atrás. A Praia mudou. O mundo mudou. Portugal mudou.
O comércio tradicional agoniza na proporção direta com que o centro urbano da cidade definha. O porto oceânico tarda em afirmar-se, sendo usado para tudo quanto é discurso de vendedores de sonhos e unguentos milagrosos. Culturalmente, perdemos terreno. Continuamos a ser – e bem – os arautos da preservação da cultura popular e das nossas tradições, mas deixámos de ser a locomotiva da vanguarda e da inovação artística e cultural. Fomos bons a descentralizar e descentralizámos quase tudo aproximando os serviços das populações e dos munícipes espalhados pelo concelho, mas não tivemos capacidade de medir as consequências desta importante medida e acautelar o despovoamento da cidade. Fizemos alterações à circulação automóvel no centro histórico da Praia com o objetivo nobre de a modernizar e fazer dela uma cidade sem carros, mas as coisas correram mal. Não podemos continuar a copiar modelos que nada têm que ver connosco, de realidades que nos são estranhas, mesmo que no original tenham resultado.
A Praia de hoje é muito diferente daquela que precedeu ao nascimento dos atuais candidatos à presidência da sua Câmara Municipal. Tem equipamentos nunca antes sonhados pelos nossos avós: escola secundária, centro de saúde moderno, auditório, complexo desportivo, marina, quartel de bombeiros bem equipado, lares com boas condições para acolher os nossos idosos, a escola “preparatória” renovada, uma academia de juventude e artes, matadouro novo, parque industrial, uma aerogare renovada, incubadora de empresas e muitas outras instalações e serviços que só o engenho dos praienses e o dinheiro da União Europeia permitiram ser realizados.
Mas falta-nos o principal: gente. Pessoas. Seres humanos para habitarem as nossas freguesias, a nossa vila e a nossa cidade.
É urgente debatermos a problemática da demografia. Desenvolvermos estratégias e implementarmos medidas que visem a fixação de pessoas e promovam o aumento da natalidade. É difícil, é complexo e não depende exclusivamente das políticas municipais. Mas não é por ser difícil que vamos deixar de encarar de frente este problema. E quando a conjuntura é a que todos conhecemos e se apresenta aos nossos olhos, só há um caminho a seguir. Ousar. Inovar. Arriscar.
As novas gerações vivem num mundo agreste e pouco amistoso para os jovens. Tiveram, por isso, que se adaptar a esta realidade procurando alternativas, sendo corajosos, ousando, inovando e arriscando. Sendo os candidatos à Câmara da Praia representantes desta castigada geração, é isso que se espera delas. Que ousem, inovem e arrisquem.
Artigo publicado ontem no Diário Insular. A imagem que o ilustra é uma fotografia de um pormenor de um mural do Luís Brum na rua do Evangelho na Praia da Vitória.