Já víamos os foguetões cruzarem os céus da baía da Praia. Imaginávamos a serra do Facho cheia de antenas parabólicas gigantescas a rodarem na busca do sinal perfeito. O Cabo da Praia poderia ser um novo Cabo Canaveral e as ruas, restaurantes e esplanadas da nossa cidade apinhadas de gente das mais diversas etnias e origens geográficas, a falarem muitas línguas diferentes sem que fossem turistas.
Pela estrada que liga o Facho a Santa Rita, de ambos os lados, os painéis fotovoltaicos – às dezenas para não dizer centenas – espelhavam esta nova Praia da Vitória que depois de abandonada pelos americanos e negligenciada pelos portugueses mergulhava num novo futuro, o do espaço, o da tecnologia, o da ciência. Por esse caminho, a circulação automóvel era intensa, mas silenciosa. Era também a era da generalização dos carros elétricos e os parquímetros da cidade haviam sido substituídos por pontos de recarregamento das baterias dos automóveis. Era o fim da dependência dos combustíveis fósseis e da tirania do estacionamento tarifado.
A Base das Lajes retomava a grandiosidade perdida. Os bairros habitacionais deixados pela força estrangeira tinham sido remodelados e adaptados às novas necessidades destes novos terceirenses. Havia lista de espera e já se projetava a requalificação de toda a estrada 25 de abril, Amoreiras e Santa Rita. O Espadim Azul iria permanecer como templo da memória da presença americana que o não transformou, mas que contribuiu para a sua perpetuação. Nem tudo o que os americanos haviam trazido para o meio do Atlântico era bom e esta zona envolvente àquela espécie te território ocupado é disso exemplo.
Na estrada do Juncal, naquela área mais próxima do Posto Um, haviam sido construídos dois complexos de grandes dimensões onde dominavam a madeira de criptoméria e o vidro, sendo que no exterior as árvores de grande porte o envolviam. Pertenciam à TERAMB-2, empresa que havia substituído a atual depois da falência desta face ao desastre financeiro que fora a exploração da central de valorização energética da Achada. A EDA, como sempre se esperou, acabou por ser mais forte… politicamente.
Estes dois novos complexos, construídos com os milhões transferidos pela administração norte-americana, no âmbito do PREIT, e depois de Sérgio Ávila se ter barricado à entrada da Base, acorrentado, ameaçando que não deixava entrar mais ninguém nas instalações se o dinheiro não viesse, tinham por missão descontaminar os solos e os aquíferos, tratar a água e distribuí-la gratuitamente pela população do concelho. Apesar deste ato heroico do Vice-Presidente, nada disto teria sido possível sem a ajuda do Governo da República (determinante), de Vasco Cordeiro (essencial) e de Donald Trump (a pedra de toque).
O primeiro passo foi dado com a realização, na Praia, de uma cimeira internacional para que este esboço de ficção científica venha a tornar-se uma realidade nos tempos mais próximos.
O segundo passo foi dado na passada semana quando o Governo dos Açores anunciou o lançamento de um concurso internacional para instalação de satélites, não na Terceira, mas em Santa Maria. Eu percebo que o Governo Regional dos Açores e o Partido Socialista estejam mais preocupados com as eleições autárquicas em Santa Maria do que na Terceira. O que eu não percebo é porque razão, à volta deste mesmo tema, na Terceira, todos se tenham calado. Ninguém reagiu, nem a favor, nem contra, nem no poder, nem na oposição. Foi como se nada se tivesse passado, mais uma vez.