Branca de Neve e a Madrasta, 1995
Finalmente, ao fim de alguns meses, consegui ver o documentário “Paula Rego, Histórias e Segredos” realizado por Nick Willing, filho da pintora.
De há alguns anos para cá passei a gostar da pintura de Paula Rego. Aquilo era demasiado violento e desconcertante. Todos aqueles seres disformes, incluindo os humanos, toda aquela frieza no tratamento dos temas tabu das nossas atualidades (que são muitas e à conveniência), a palete cromática de cores saturadas que, aparentemente, nada têm que ver umas com as outras ou são difíceis de encontrar no mundo real ou, ainda, a forma como a pintora tratava os contos tradicionais, autênticos santuários refúgio da ingenuidade das nossas infâncias longínquas e tantas vezes perdidas.
E foi precisamente esta faceta da Paula Rego que me causava repulsa (a sua única faceta) a causa da minha conversão à sua arte. Esta sua capacidade de provocar, chocar e transpor para a tela o lado mais negro e obscuro dos nossos seres interiores sem preconceitos e sem medo de julgamentos na praça pública, faz da sua obra um dos traços de caráter que mais admiro num ser humano: a autenticidade sem medo do politicamente correto tão em voga neste nosso novo tempo.
Recomendo vivamente que vejam documentário, aliás, um dos meus géneros cinematográficos de eleição, até para perceberem a forma eficaz como ela resolve os seus problemas pessoais e arruma os fantasmas que a atormentam… quem dera fosse assim tão simples. A verdade é que ainda não experimentei. Depois digam-me o que acham.