Começaram esta semana as tomadas de posse dos novos órgãos autárquicos que terão a difícil missão de gerir os nossos concelhos durante os próximos quatro anos. E quem fala de concelhos, fala da ilha. É impossível olhar para a Terceira como se fosse uma realidade compartimentada em que as decisões de uma das suas partes não tem influência na outra, sem que se exija que um e o outro lado se entendam e se articulem no sentido de resolverem problemas comuns que afetam toda a população terceirense. Projetar um cais de cruzeiros, uma plataforma logística ou promover a centralidade da Terceira tornando-a o centro aglutinador de coisa qualquer regional não pode ser feito sem que as duas autarquias da ilha se entendam e não procurem, individualmente, o protagonismo regional de cada uma delas.
Enquanto nos entretivermos a discutir se o cais de cruzeiros será em Angra ou na Praia, se o hub será no Porto das Pipas ou no Cabo da Praia ou se a capital da cultura é a cidade património ou a cidade nova, os outros vão ganhando terreno porque sabem que, independentemente de ser em Ponta Delgada ou em Ponta Delgada, quem ganha é São Miguel.
Mas esta projeção da Terceira no futuro e na senda do desenvolvimento económico e do progresso não pode contar SÓ com as autarquias, por muito peso que elas possam ter. É essencial que os deputados regionais, da república e todos quantos exerçam funções públicas no governo ou nas empresas e sociedades públicas regionais se empenhem nesta luta. Uma luta difícil e que pode colocar em perigo os lugares que ocupam. A verdade nua e crua é que grande parte desses lugares tem como critério base de nomeação ou de escolha a origem geográfica do titular. Não é por acaso que temos o número de secretários e diretores regionais que temos ou a grande quantidade de membros nomeados em conselhos de administração e em tantos outros lugares difíceis de elencar. Acreditem, é por serem da Terceira. Se compararmos, por exemplo, com o Faial – para não irmos diretamente ao Corvo – perceberão que a diferença é abissal.
Com isto se percebe que não é por falta de gente com capacidade de influência. Se não é por isso, só pode ser por falta de vontade de inverter as prioridades. Colocar à cabeça os interesses da Terceira e das suas populações em vez dos interesses pessoais e partidários que só permitem o crescimento de alguns numa sociedade dita democrática e igualitária.
A ilha Terceira tem que deixar de ser um permanente campo de batalha em que perdemos todos. E tão bem nós sabemos fazer e alimentar guerras. Batalhas para os outros vencerem. Troféus conquistados para outros exibirem e deles colherem os frutos. É certo que alguns ganham, mas a realidade é que o coletivo não vence e os resultados estão à vista. Há que ter coragem para enfrentar gigantes e de se unirem esforços. Encontrar o que de comum existe entre as vontades de cada uma das forças envolvidas nesta contenda que se vai perpetuando. Há que ter a ambição de querer mais e melhor para Angra e para a Praia, para a Terceira.
Infelizmente, quando se olha para o panorama decisor e influenciador da nossa ilha, é a origem partidária dos seus protagonistas que se acentua. Pouco me importa se o Sérgio é do PS, a Mónica do PSD, o Artur do CDS, a Lara do PS ou o Ventura do PSD. O que importa, isso sim, é que todos são terceirenses. E é pela Terceira que são o que são e que ocupam os lugares que ocupam. Só lhes peço, a estes e a todos os outros na mesma situação, que não se esqueçam da Terceira.
Artigo publicado na edição de hoje do Diário Insular.