
De manhã, aí por volta das nove e meia, dá gosto entrar no Café Terezinha e perceber que, tal como antigamente, voltou a estar cheio de gente. Sem o senhor Cipriano, o senhor Vitorino, o Nelson ou o Paulo, e sem o cheiro característico do café de saco, este espaço de referência da rua de Jesus transformou-se.
A freguesia é outra e as caras que tão bem conhecíamos e cumprimentávamos não são as mesmas. Muitas, infelizmente, já nem sequer estão entre nós, outras, teimosamente e porque os hábitos não se perdem com a facilidade que muitas vezes desejaríamos, continuam a ir ao Terezinha, religiosamente, mesmo que já não consigam registar o totobola ou beber um traçadinho. Apesar disso, outros rostos agora frequentam o café. Começamos a habituarmo-nos a vê-los todos os dias, já começamos a cumprimentá-los e, quando lá não estão, até estranhamos.
Alguns dirão que Terezinha ficou melhor, que tem gente nova, outras pessoas; outros, certamente pensarão o contrário, que aquilo não é o Terezinha de outros tempos, que não vendem isto ou aquilo ou que perdeu a alma. Eu simplesmente digo que está diferente, que mudou e se modernizou com o que de bom e de mau o progresso traz consigo. Se tenho saudades do velho Terezinha? Claro que tenho. Mas isso não me impede de gostar do Terezinha de agora.
A verdade é que o Terezinha continua a ser um símbolo da Praia e da rua Jesus. Se um dia fechasse de vez, tenho a certeza, os praienses o chorariam como que parte da sua identidade houvesse desaparecido. Um Terezinha dinâmico e com gente nova (não necessariamente nova de idade) é sinal de vitalidade. Pelo contrário, um café como este, vazio, seria sinal de decadência.
Tal como o Terezinha, a rua de Jesus é o símbolo da cidade. Podem existir ruas mais movimentadas, com melhor dinâmica comercial e mais atrativas. A verdade, contudo, é que se a rua de Jesus estiver inerte, a cidade também estará. Não quero, aqui e agora, discutir se está bem ou mal, já o fiz várias vezes e estou seguro que, ao lerem este texto, muitos voltarão a fazê-lo e ainda bem que assim é. Neste momento, no entanto, quero simplesmente que olhem para a artéria principal da minha cidade e reflitam sobre a sua importância e significado para a Praia e para os praienses.
Vamos fazer um pequeno exercício. Um “supônhamos”, como diriam o Toni e o Zezé. Peço-vos que imaginem a rua de Jesus sem comércio, sem cafés, sem bancos, sem gente e que tudo isso seria transferido para uma qualquer artéria algures nas redondezas da cidade. Uma artéria com as melhores lojas, os melhores restaurantes e bares, a transbordar de gente. Quem me dera existir uma rua dessas na nossa terra. A Praia da Vitória seria a mesma cidade? Teria a mesma identidade? Continuaria a ser a Praia da Vitória?
Imaginem agora a rua Augusta, em Lisboa, sem gente, sem lojas, sem…
Alguns negócios vão ficar, vão aparecer novos negócios, outros vão evitar a falência se deslocalizados atempadamente para uma zona comercial com estacionamento e outras facilidades. Esta cidade está formatada para receber o povo das freguesias e servi-lo. Visto que o povo já pouco necessita de vir à cidade temos de encontrar um novo formato rapidamente.
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Concordo plenamente. Há é que não desistir de procurar essas alternativas, nem ficar à espera que os outros as encontrem por nós. A Praia mudou. As pessoas que frequentam a Praia, também. Agora há outro tipo de potenciais clientes na rua de Jesus e não é o “povo das freguesias”, antes pelo contrário. Temos que olhar para eles como um novo mercado.
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