
Olho para a Praia e procuro encontrar-lhe um futuro que passe ao lado da simples disputa partidária de ocasião, do diz-que-disse e dos episódios anedóticos que se transformam nos grandes problemas de fundo, ofuscando as questões essenciais.
Infelizmente, este género de situações tem sido cada vez mais frequente, dando-lhe um certo tom de normalidade. É grave e a cidade cai na tentação de se olhar como espuma efémera, contaminada, sem sustentação, sem fundamento, sem profundidade, contentando-se com isso.
É facto que a nossa ambição é pequena. É uma triste realidade o gostarmos de esperar sentados na esperança de que alguém nos venha resolver os problemas. Mas é ainda pior o pensarmos que ELES é que o têm de fazer, cabendo a nós o prazer último de disfrutar do banquete, nem sempre merecido, para cuspir a seguir no prato de onde comemos.
Depois queixamo-nos. Eles não fizeram nada. Eles não fazem nada. Eles só pensam neles próprios. Enchem a barriga, usam-nos e humilham-nos.
Pomo-nos a jeito.
Gostamos de ser assim, de viver nesta espécie de outono permanente, a ver as folhas cair e a pisá-las com aquele consolo prazeroso que nem ao Diabo lhe passaria pela ponta dos cornos desembolados.
Que temos feito nós pela nossa cidade para além de criticarmos tudo ou de a usarmos para nosso benefício pessoal ou de fonte de rendimento? Cada um de nós saberá que contributo dá ou deu ou vendeu. Cada um de nós saberá o que pode ainda fazer. Que disponibilidade. Ideias. Criatividade. Entrega. Frustração.
A cidade espera por nós. Pela nossa ajuda.
Que futuro se quer para a Praia?
Das entidades públicas e daqueles que têm nas mãos a responsabilidade já sabemos o que pensam. Terão projetos. E nós, seres arredados dessas lides e que julgam ser a democracia uma simples cruz, inscrita num quadrado, à frente de uma sigla partidária sem outro conteúdo que não seja o símbolo?
Talvez seja este o momento de os praienses chamarem a si a responsabilidade de definir um futuro para a Praia, sem estarem preocupados com as cores partidárias ou em agradarem este ou aquele putativo líder, a esta ou aquela fação interna. A Praia vale muito mais do que isso. Mais do quezílias e mexericos que só beneficiam alguns, mas que prejudicam todos.
Agarremo-la. Seguremo-la por onde nos for mais conveniente. À nossa conveniência.